Operadoras apostam em rede local sem fio Celulares e provedores brigam pelo mercado de Wi-Fi, que deve atrair também fixas
O Estado de São Paulo, Segunda-feira, 25 de agosto de 2003
RENATO CRUZ
É tempo de dar adeus aos fios. A tecnologia Wi-Fi (de "wireless fidelity"), criada como uma solução de rede local, já se transformou numa alternativa de acesso sem fio à internet em lugares públicos e prepara-se para assumir novos papéis, como a ligação entre os dispositivos de uma casa e até como uma alternativa mais barata de telefonia. Com o Wi-Fi, já é possível enviar filmes e fotos do computador para a TV, músicas para o aparelho de som e criar um circuito interno de televisão, com minicâmeras sem fio.
- Os telefones Wi-Fi permitem ligar para o exterior sem pagar interurbano, usando a conexão de internet rápida. Provedores de acesso, como o iG e o Terra, e empresas celulares, como a Oi, já adotaram a solução. A Vivo e a BCP também estão de olho.
- "O acesso é rápido", afirma Carla Burba Poleo, gerente de banco, que testou, num computador portátil, a internet via Wi-Fi no Frans's Café da Avenida Faria Lima. "Bem melhor do que eu tenho no banco." O sistema Wi-Fi funciona na faixa de 2,4 GHz, atualmente desregulamentada. Apesar disso, a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) estuda elaborar uma regulamentação para o serviço.
- "O mercado é bem competitivo, pois o espectro é livre", afirma Alberto Blanco, diretor de Marketing da Oi. Qualquer um pode usá-la, sem necessidade de licença. A Oi, operadora de telefonia móvel da Telemar, já oferece o serviço em 40 locais, em parceria com a Vex, que instala a infra-estrutura.
- Mais da metade está em São Paulo. A empresa ainda não começou a cobrar pelos serviços. A Oi tem acordo com as redes de hotéis Accor e Blue Tree para explorar a tecnologia Wi-Fi. "O Wi-Fi vai experimentar uma explosão como a da telefonia móvel", diz Blanco.
- Os lugares públicos onde existe acesso à internet via Wi-Fi são chamados "hot spots". Num projeto em Zamora, na Espanha, a Intel cobriu toda a cidade de 68 mil habitantes com a tecnologia. No Brasil, a Vex tem infra-estrutura instalada em 25 aeroportos e cerca de 40 lojas das redes Fran's Café e Ofner. "Até o final do ano serão 250 'hot spots' ", afirma o presidente da Vex, Roberto Ugolini. No ano que vem, a previsão é de 500. A Vex instala os "hot spots" e quem comercializa e gerencia os acessos são parceiros. Entre as operadoras parceiras da Vex estão a Oi e a Embratel. Entre os provedores, o iG.
- A Vex começou a operar no ano passado, inicialmente em aeroportos. Além de hotéis e cafés, a empresa planeja instalar o Wi-Fi em shoppings e centros de convenções. O investimento, até agora, ultrapassou US$ 2 milhões. Entre 200 e 300 pessoas usam o serviço por semana.
- "O uso do Wi-Fi na telefonia será uma nova revolução", acredita Eduardo Chapeta, diretor de Tecnologia do VoIP Group. Ele conta que em países como a Argentina e o Chile, já há operadoras instalando "hot spots" para oferecer telefonia residencial, com mobilidade restrita. "Enquanto uma estação de celular custa centenas de milhares de dólares, um ponto de acesso sai por centenas de dólares", diz. O VoIP Group tem uma solução que permite relacionar um telefone Wi-Fi a um número fixo ou móvel, o que possibilita às operadoras lançarem serviços híbridos.
- Para o diretor de Planejamento e Capacidade da BCP, Luiz Storni, a voz sobre Wi-Fi pode ser vista como ameaça e oportunidade pelas operadoras celulares.
- "O aparelho ainda é muito caro, mais de R$ 1 mil, mas este problema, o tempo resolve", diz. "Ao mesmo tempo em que pode ser usado no lugar do celular, o telefone Wi-Fi é uma alternativa até para as operadoras oferecerem novos serviços." A BCP instalou em sua sede, em São Paulo, um "hot spot", para testes. "Analisamos tecnicamente e verificamos a possibilidade de negócio."
- A Vivo, maior operadora celular do País, já terminou os testes de Wi-Fi em São Paulo e no Rio há quatro meses e pretende lançar planos combinando a tecnologia com a internet rápida via celular, que já opera. "Temos nossa estratégia, que é oferecer mobilidade reduzida", disse Luis Avelar, vice-presidente de Marketing e Inovação da Vivo.
- "O mercado está no ponto ideal para a explosão", diz Vanderlei Rigatieri, presidente da DGX, que fornece software para gerenciar serviços públicos de Wi-Fi. "As operadoras estão visualizando grande potencial para híbridos Wi-Fi e celular." A Cisco já comercializa um telefone Wi-Fi, que se parece com um celular. "Temos uma parceria com um fabricante tradicional de celulares, para lançar aparelhos híbridos, que funcionam na rede Wi-Fi e na celular", conta Luis Carlos Moraes Rego Jr., diretor de Tecnologia da Cisco.
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Em São Paulo, cerca de 120 funcionários da Cisco usam computadores portáteis com acesso. Pioneira no uso do o Wi-Fi, lá ninguém tem um lugar fixo e, quando no escritório, o funcionário pode sentar-se em qualquer mesa disponível, geralmente próxima das pessoas com quem está trabalhando no dia.
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